(Priscila Patta coordenando o ensaio da Cia Khalua noespetáculo Delirium, de Thalita Menezes e Leandro Brito, em 2012, na cidade de BH/MG)
Somos uma agrupação artística que desenvolve pesquisas em linguagens do movimento. Nosso foco está em potencializar formas individuais de se expressar através da dança (qualéocódigodoSEUmovimento?). A direção é de Priscila Patta, criadora do estilo Raks Jam Fusion e do método Patta. Estamos situados em Belo Horizonte/MG. Venha nos visitar!
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Mulheres que dançam pensando... ou o contrário
Tenho conversado bastante com algumas mulheres e percebi que todas temos falado um assunto em comum: o papel da mulher está sofrendo novamente uma mudança visível.Para além da mudança a nível mundial, com o fato de ter cada vez mais mulheres no mercado de trabalho, nas universidades e em importantes cargos do governo; há as mudanças locais, de cultura para cultura. E é essa a que interessa aqui, pois entendemos que é dela que sai a onda que se expande até atingir escalas maiores.O ponto mais tocado em todas as conversas foi o do relacionamento afetivo heterossexual. Entendemos que a estrutura do amor romântico - a la Romeu e Julieta, monogâmico, "até que a morte nos separe" está condenado a findar-se. Não é real mais. Não é mais possível. Alguns resistirão e passarão muito bem por isso. Mas estes serão, a partir daqui, a exceção e não a regra. Basta observar a natureza humana para perceber que é extremamente difícil passar toda uma vida com um ou dois parceiros somente. A tendência natural, veja bem, natural do ser-humano é a de se relacionar com mais pessoas. Independente da profundidade desta relação. O desejo animal, instintivo, sexual é inerente a todos nós. Isto é muito claro. Associamos esta mudança à sociedade moderna, que coloca a mulher outra vez em pé de igualdade com o homem, de forma que ela possa fazer suas escolhas sem precisar se expor, nem se sentir culpada, ao mesmo tempo em que as discussões a nível intelectual se equipararam a tal ponto que, não havendo a necessidade da discrição, omissão, ou não havendo o medo à exposição, a mulher entende porque toma cada decisão e sabe argumentá-la e defendê-la sem que isso seja percebido como um problema.Parece que nós mulheres estamos começando a entender o equilíbrio destas relações e parece que estamos entendendo o que é ser mulher - pelo menos enquanto gênero, o que significa dizer que a mulher é um ser que pensa nela e no outro, por natureza. Ela cuida e é dócil, amável. Em algumas isso vai sobressair mais, em outras menos. Mas o que dizemos aqui é que isso é uma característica inerente às mulheres. E, partindo disso, parece que estamos mais interessadas em compreender o universo masculino, saindo do papel das competidoras, para nos colocar no papel de observadoras de nós mesmas, antes de mais nada. Pois, ao compreender o universo masculino teremos mais chances de conviver de forma otimizada e harmônica - primeiro conosco - depois com eles. Não se trata, porém, de considerar a mulher melhor ou mais importante que os homens. Se trata de perceber que ambos tem a importância dentro de uma sociedade. E que os papéis variam sim.Claro que a conversa é muito mais profunda e complexa que esta brevíssima introdução feita aqui. Resulta que por conta dessas prosas, decidimos fazer um trabalho onde descobriremos como nossos corpos falam o que nossas cabeças pensam. Que tipo de movimentação poderá sair daí? Não temos a menor ideia. Vamos mexer nas nossas histórias pessoais, de sucesso e de decepção com os homens do nosso passado. Vamos mexer nos nossos sentimentos e emoções mais profundos. Vamos mexer no nosso orgulho e nas feridas ainda em processo de cicatrização. Vamos investigar a fundo por onde passam todas as questões do relacionar-se com alguém. E não é porque alguém nos decepcionou ou nos fez felizes. Este grupo de mulheres entende que ninguém é responsável por um sentimento-emoção que está em mim. E se está em mim, somente eu posso senti-lo, ativando-o o quanto e quando dou conta.É um trabalho de auto pesquisa que se baseia na auto-responsabilização. O outro é puro cenário. É pura ilusão.
(Priscila Patta coordenando o ensaio da Cia Khalua noespetáculo Delirium, de Thalita Menezes e Leandro Brito, em 2012, na cidade de BH/MG)
Qual é o código do SEU movimento?
(Priscila Patta coordenando o ensaio da Cia Khalua noespetáculo Delirium, de Thalita Menezes e Leandro Brito, em 2012, na cidade de BH/MG)
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3 comentários:
Adorei a reflexão! Penso que a sexualidade feminina ainda caminha no passo do conhecimento do ser "masculino", este em evolução nos homens e em nós mesmas. Por tempos a fio nos adaptamos à masculinidade que rege a sociedade consumista contemporânea e acho que este comportamento do "consumo" inevitável à sobrevivência atual, acabou por tornar-se visível no modo com o qual os homens realcionam-se coma as mulheres e consigo mesmo. Acredito que mais do que conhecer o outro, estamos reaprendendo a conhecer nós mesmas como um ser híbrido e complexo por natureza. Conhecer o "homem" tem sido até fácil. O que amedronta é quando descobrimos a nós mesmas e não sabemos onde encaixar esse "XX" no mundo de hoje. O corpo, assim como as relações gritam por liberdade e arte, a arte de se tocar, de tocar o outro, de dar um abraço antes de uma reunião e um bom dia com um sorriso sincero. O mundo do poder ainda é "masculino" e como me disse o psicólogo do meu filho, tem muita mulher "pintuda" por aí. Começo a perceber uma abertura para o poder do feminino, este da criação, da multidisciplinariedade(palavrinha difícil rs) de ações e de um olhar mais humano diante de uma democracia já falida.Sinto que nos responsabilizamos pelos sentimentos e vivências umas das outras como mulheres, como se o sentido de unidade das "tribos" voltasse a ser importante para as criações coletivas. Pensando nesta questão do corpo contemporâneo e na nossa cultura, ainda precisamos romper muitos padrões sociais. A moral estragou grande parte da nossa formação humana. Naõ podemos gritar, não podemos chorar na frente dos filhos, não podemos mastigar chiclete de boca aberta. E é por isso que fazemos arte. A arte é um mundo... um outro mundo. As mulheres que se atreveram no passado a serem quem eram acabaram loucas ou mortas, a citar Camille Claudel. Hoje chegamos só um pouquinho à beira da loucura. rs e ainda bem que tentamos. Penso que o ato de descobrir o próprio corpo passa pela barreira de enfrentar a moral e experimentar possibilidades até então não pensadas. Fico triste em pensar que muitas de nós descobrem o câncer de mama tardiamente porque não se tocam e não são tocadas. E o toque verdadeiro não é só prazer e nem só cuidado. É um misto das duas coisas. De prazer só,já basta a mídia. Sinto que ainda nos falta as duas vivências: a do prazer consigo mesmo e a do cuidado com o outro. É preciso permitir-se não ser uma "barbie" quando não se tem tempo de arrumar as unhas ou os pés estão com calos à vista; permitir-se usar aquele velho sutiã sem bojo que não encontramos mais nas lojas, permitir-se caminhar sobre o meio fio para testar seu equilíbrio de salto alto e rir... rir muito.. rir de qualquer coisa, inclusive do que não damos conta. beijos, Janice.
Janice, suas colocações são pertinentes. Quando você diz que "o que amedronta é quando descobrimos a nós mesmas", eu identifico aí o ponto da auto responsabilização. O capitalismo e essa tal de democracia que vivemos aqui no Brasil nos ensinaram que devemos perceber o mundo de fora pra mais longe ainda. Fomos nos esquecendo de nós mesmos, enquanto seres humanos, que pensam (!), sentem (!!). Como diz Bertherat: “Nosso corpo somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe a nossa inteligência, sentimentos, alma. Ele os inclui, dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro… pois corpo e espírito, psíquico e físico, e até força e fraqueza , representam não a dualidade do ser, mas sua unidade.”
É tempo de olhar para a unidade, um pouco parecido com o que você diz do resgate das tribos. Muito grata por você se fazer presente! VAMOS JUNTOS!
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